LÍDIA JORGE

Lídia Jorge: relevância e pertinência de uma Cátedra

Lídia Jorge é uma das escritoras portuguesas contemporâneas mais lidas no Brasil e mais estudadas nos cursos de Letras das Instituições de Ensino Superior em nosso país. O escopo da produção literária de Lídia Jorge é vasto e a pesquisa em torno de sua obra se avoluma no Brasil, como se pode aferir nos repositórios nacionais de trabalhos de conclusão de curso, tanto nas especializações de lato sensu quanto e, principalmente, nos cursos de formação stricto sensu, a exemplo dos mestrados e doutorados desenvolvidos nas Universidades brasileiras. Os cursos de graduação e as pesquisas que são produzidas nesse espaço formativo também demonstram um interesse destacado pela literatura de Lídia Jorge. Ter essa premiada escritora portuguesa como homenageada da Cátedra Camões na Universidade Federal de Goiás, além de propor, em alguma medida, um espaço de discussão equânime em torno da produção cultural portuguesa, garante a valorização e o reconhecimento de uma literatura de autoria feminina, que muito agrega e contribui no campo da Literatura portuguesa. Vale dizer que Lídia Jorge é uma das principais representantes dessa literatura. Além de premiada e reconhecida globalmente, com Cátedras Camões em sua homenagem na Universidade de Massachusetts Amherst, nos Estados Unidos da América, e na Universidade de Genebra, na Suíça, Lídia Jorge tem uma produção literária fundamental para o campo estético, histórico, social e para a devida compreensão das relações históricas de Portugal com o além-mar, aspectos que estão na ordem do dia. Com um apurado rigor estético, a produção de Lídia Jorge é, ao mesmo tempo, um lugar de interesse incontestável do leitor comum e daquele especializado, assim como é um caminho de entrada para a compreensão ampla e sólida da cultura e da literatura portuguesa. 

 

Biografia

Romancista, contista e autora de uma peça de teatro, Lídia Guerreiro Jorge nasceu em Boliqueime em 1946.

Licenciada em Filologia Românica, foi professora liceal em Lisboa e em África – Angola e Moçambique – para onde partiu em 1970. Ali viveu o marcante ambiente da Guerra Colonial, que mais tarde descreveria no romance A Costa dos Murmúrios através da perspectiva de uma personagem feminina, a mulher de um oficial do exército português de serviço em Moçambique.

De regresso a Lisboa continuou a actividade docente e, em 1980, publicou o romance O Dia dos Prodígios, que lhe valeu o Prémio Ricardo Malheiros, da Academia das Ciências de Lisboa. Esta sua primeira obra publicada deve um impulso à revolução de Abril de 1974: O Dia dos Prodígios constrói-se como uma alegoria do país fechado e parado que Portugal era sob a ditadura, permanentemente à espera de uma força que o transformasse. O romance teve grande impacto junto do público e da crítica e Lídia Jorge foi de imediato saudada como uma das mais importantes revelações das letras portuguesas e uma renovadora do nosso imaginário romanesco.

A linguagem narrativa deste romance e do seguinte – O Cais das Merendas – remete para a atmosfera do realismo mágico, sobrepondo vários planos narrativos numa estrutura polifónica de onde se destacam personagens que adquirem uma dimensão metafórica, ou mesmo mítica. A autora tem entretanto vindo progressivamente a adoptar um tom mais realista, nomeadamente em O Jardim sem Limites, onde à pequena aldeia de Vilamaninhos, que simbolizava no seu primeiro romance o Portugal pequenino e arcaico, se substitui Lisboa, a metrópole europeia onde se cruzam todas as influências e se rarefazem identidades e territórios. Nos romances de Lídia Jorge, a condição sócio-cultural das personagens, sobretudo as femininas, reflecte-se em diálogos, testemunhos a que não é alheia a atenção que a autora dispensa à tradição oral, em relação directa com a crónica da nossa história recente, antes e depois da revolução. A sua peça para teatro (A Maçon) procura um tempo mais remoto, os primeiros anos da ditadura, para retratar a condição feminina imposta pela ideologia do Estado Novo e a perda de liberdades (também) por parte das mulheres.

A par da actividade literária, Lídia Jorge foi professora convidada da Faculdade de Letras de Lisboa, actividade que interrompeu para desempenhar funções na Alta Autoridade para a Comunicação Social, entre 1990 e 1994.

Os seus livros têm-lhe merecido variadíssimos prémios e estão traduzidos para diversas línguas, como alemão, galego, búlgaro, castelhano, esloveno, grego, francês, hebraico, húngaro, italiano, holandês, romeno, sueco e inglês, entre outras.

Fonte: Centro de Documentação de Autores Portugueses 11/2021

Conheça as principais obras de Lídia Jorge.